Muita gente foi pega de surpresa nesta semana ao abrir o aplicativo Meu INSS: quase 9 milhões de aposentados e pensionistas receberam avisos oficiais sobre descontos que podem ser fruto de uma das maiores fraudes já vistas no sistema previdenciário do Brasil. Os avisos começaram a aparecer no app a partir do dia 13 de maio, detalhando valores cobrados e orientando como fazer a denúncia direto ao INSS, caso o desconto não tenha sido autorizado.
No dia seguinte, 14 de maio, a etapa seguinte permite que qualquer beneficiário envie uma reclamação formal pelo próprio aplicativo. Quando isso acontece, o INSS entra em contato com a associação responsável pelo desconto para pedir uma comprovação de autorização. Se a cobrança for considerada irregular, o Instituto promete emitir um boleto para devolver ao segurado o valor descontado.
A quantidade de pessoas envolvidas impressiona. Para se ter uma ideia, essa revisão afeta quase toda população de cidades como Salvador e Belo Horizonte. O tamanho da dor de cabeça é compatível com o prejuízo: o governo tomou uma medida drástica e bloqueou R$2,56 bilhões em bens e contas das associações apontadas como envolvidas, garantindo recursos para ressarcir quem perdeu dinheiro para o golpe.
O bloqueio de bilhões das associações é só uma parte do embrólio que virou essa história. Essa ação, liderada pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, foi uma resposta rápida diante da pressão popular e política. Já o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, disse que o mapeamento feito agora vai finalmente mostrar o tamanho real do rombo e permitir devolver o que foi tirado ilicitamente.
Nos bastidores, o assunto virou munição política. O presidente Lula aproveitou o 1º de maio para responsabilizar o antigo governo Bolsonaro pela existência do esquema, afirmando que o atual governo está desmantelando a fraude. Só que a abordagem não foi unânime. Enquanto Lula insistia no discurso contra a gestão anterior, Rui Costa, ministro da Casa Civil, reclamou do próprio governo, dizendo que a Controladoria-Geral da União (CGU) errou ao não impedir o ataque aos cofres dos aposentados. Essa divisão interna sobre de quem é a culpa trouxe ainda mais ruído à situação.
No meio desse cruzamento de acusações, o que preocupa mesmo é a solução para quem sofreu o prejuízo. A própria direção do INSS já admite: associações devem contestar legalmente as acusações e há também beneficiários que podem discordar das respostas do órgão, alegando que nunca autorizaram desconto algum. Todos esses embates podem transformar a devolução do dinheiro em um processo demorado, difícil para quem mais precisa: aposentados que contam com cada centavo do benefício todo mês.
Se tudo correr como o governo espera, a operação vai permitir que beneficiários consigam rastrear cada centavo descontado sem permissão, receber de volta o que é de direito – e pressionar para que fraudes como essa não se repitam. Mas, enquanto isso, a novela dos descontos indevidos promete se arrastar nos tribunais e nas filas de quem aguarda o ressarcimento. Para agora, o essencial é ficar atento às notificações, conferir deduções mês a mês e, na primeira suspeita, registrar a denúncia pelo Meu INSS.
Escrito por Thiago Neves
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