Caio Bonfim lidera melhor campanha do Brasil no Mundial de Atletismo em Tóquio com ouro e prata

Caio Bonfim lidera melhor campanha do Brasil no Mundial de Atletismo em Tóquio com ouro e prata

Uma arrancada do 27º lugar ao topo: a prova que redefiniu a marcha brasileira

Uma vitória que começou bem longe da liderança: aos 5 km, ele era o 27º. Aos 20 km, cruzou a linha como campeão do mundo. A performance de Caio Bonfim na marcha atlética em Tóquio entregou um roteiro raro no alto rendimento: sangue frio, leitura de prova e um golpe final no momento justo. Com 1h18min35s, o brasileiro conquistou o ouro nos 20 km, à frente do chinês Zhaozhao Wang (1h18min43s) e do espanhol Paul McGrath (1h18min45s). Uma semana antes, já havia levado a prata nos 35 km. Duas medalhas em sete dias e a confirmação de um atleta no auge técnico.

O segredo esteve no relógio e na cabeça. O ritmo inicial saiu mais lento do que o padrão de campeonato — por volta de 4min por quilômetro, quando esse nível aguenta 3min45s em condições favoráveis. Em vez de entrar no frenesi do pelotão, Bonfim manteve a marcação à distância, dez segundos atrás do líder, sem desperdiçar energia e sem se expor a punições técnicas. A equipe pediu que ele encostasse; ele respondeu que sabia o que estava fazendo. Sabia mesmo.

Na metade da prova, o brasileiro já tinha subido para 12º, sempre com contato visual com os ponteiros. O movimento decisivo veio no quilômetro 14: aceleração limpa, encaixe de gesto, corte de tempo volta a volta. A partir dali, o grupo rachou. Wang e McGrath resistiram, mas não o suficiente para neutralizar o avanço. A reta final teve o controle de quem conhece o próprio corpo e o peso da medalha que estava a caminho.

Quarto pódio em Mundiais, liderança histórica e uma campanha que muda o patamar

Quarto pódio em Mundiais, liderança histórica e uma campanha que muda o patamar

O ouro em Tóquio levou Bonfim ao quarto pódio em Campeonatos Mundiais e deu a ele um posto simbólico: o brasileiro mais medalhado da história da competição, superando a marca de Claudinei Quirino. Não é só estatística. É sinal de longevidade, de adaptação a diferentes cenários de prova e de domínio da estratégia em um evento que pune qualquer excesso — especialmente em clima quente e úmido, como costuma ser na capital japonesa.

A prata nos 35 km, somada ao ouro nos 20 km, ainda iluminou algo maior: a melhor campanha do Brasil em um Mundial de Atletismo. O impacto vai além do quadro de medalhas. No critério de pontos por colocações, que a World Athletics usa para medir consistência, o país somou resultados em série, com finais e top-8 que sustentam o discurso de evolução. Em vez de um pico isolado, a delegação entregou presença.

Na própria prova dos 20 km, a profundidade do time ficou clara. Mateus Corrêa completou em sétimo lugar, com 1h21min04s, um resultado sólido em cenário de altíssima competitividade. Max Santos fechou na 42ª posição, com 1h27min34s, importante para o ranking e para a experiência internacional. Essa espessura de elenco não aparece da noite para o dia; nasce de calendário, intercâmbio, ciência aplicada ao treino e leitura de regulamento — fundamental na marcha, onde técnica e rendimento caminham juntos.

Por que a estratégia de Bonfim funcionou tão bem? Porque ela partiu de dois pilares. Primeiro, a leitura do ritmo coletivo: quando a prova abre lenta, quem gasta menos no início compra mais potência para o trecho crítico entre os quilômetros 12 e 16, onde as corridas de alto nível costumam se decidir. Segundo, a gestão do gesto técnico sob fadiga: manter a eficiência mecânica quando a velocidade sobe é o que separa o ataque eficaz da punição por irregularidade. Ele fez os dois.

O resultado em Tóquio também redesenha a conversa sobre o lugar do Brasil no atletismo global. O país, por muito tempo associado a lampejos em provas específicas, agora soma regularidade em eventos técnicos e de resistência. Isso abre portas para projetos de longo prazo, melhora o posicionamento no ranking e dá confiança para os próximos ciclos do calendário internacional.

Os números da noite que entrou para a história:

  • Ouro – 20 km marcha: Caio Bonfim – 1h18min35s
  • Prata – 20 km marcha: Zhaozhao Wang (China) – 1h18min43s
  • Bronze – 20 km marcha: Paul McGrath (Espanha) – 1h18min45s
  • Brasil no top-10: Mateus Corrêa – 7º lugar – 1h21min04s
  • Experiência somada: Max Santos – 42º lugar – 1h27min34s

O recado que fica é simples: planejamento conta, leitura de prova decide e maturidade pesa. Tóquio entregou tudo isso na mesma noite — e com sabor de ouro para o Brasil.

15 Comentários

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    Jaque Salles

    setembro 22, 2025 AT 09:47
    Caio Bonfim é o tipo de atleta que faz a gente acreditar de novo. Sem alardes, sem exibicionismo, só trabalho e inteligência. O ouro não foi sorte, foi construção.
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    Alandenicio Alves

    setembro 24, 2025 AT 05:47
    Essa prova foi um show de força mental. Quem disse que o Brasil só tem velocidade e salto? Esse aqui é outro nível.
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    Paulo Roberto Celso Wanderley

    setembro 26, 2025 AT 03:18
    Agora vem a turma do 'o Brasil finalmente acordou'. Cadê os mesmos quando o Bonfim ficou em 12º em Londres? O sucesso só é válido quando vira medalha, né?
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    Ana Paula Martins

    setembro 27, 2025 AT 23:00
    A performance de Caio Bonfim demonstra um alto grau de disciplina e preparação técnica, elementos que devem ser sistematicamente replicados em programas de alto rendimento nacional.
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    Santana Anderson

    setembro 28, 2025 AT 00:03
    ISSO É O QUE A GENTE QUERIA DESDE 2012!!! 🥹😭👏 O BRASIL FINALMENTE TEM UM HERÓI QUE NÃO É SÓ PRA FOTO! E O QUE DIZEM DOS QUE NÃO APOIARAM? 🤬🔥
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    Marcela Carvalho

    setembro 29, 2025 AT 16:50
    Talvez a marcha não seja esporte mas uma forma de meditação em movimento e ele só conseguiu porque aprendeu a parar de correr
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    vera lucia prado

    outubro 1, 2025 AT 02:10
    A consistência demonstrada por Caio Bonfim representa um marco significativo para a evolução do atletismo brasileiro, especialmente em disciplinas que exigem precisão técnica e controle psicológico.
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    Ana Carolina Borges

    outubro 2, 2025 AT 23:44
    E se eu te disser que o ouro foi comprado? O Japão tem acordos com a World Athletics pra favorecer países que investem em turismo esportivo, e o Brasil é o novo alvo deles, por isso o tempo foi ajustado, o cronômetro foi calibrado errado e o juiz que puniu o chinês foi demitido na semana seguinte, ninguém fala disso porque a mídia é controlada por corporações que querem manter a ilusão de que o esporte é limpo
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    ANTONIO MENEZES SIMIN

    outubro 3, 2025 AT 09:09
    Mateus Corrêa em 7º também foi incrível... e Max Santos completando? Isso é time. Não é só o ouro que importa.
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    Inah Cunha

    outubro 3, 2025 AT 17:24
    MEU DEUS QUE EMOÇÃO!!!!!! EU CHOREI NO TRABALHO QUANDO ELE PASSOU O CHINÊS!!! QUE HOMEM!!! 🥲💖🔥 O BRASIL É MUITO MAIOR DO QUE ELES QUEREM QUE A GENTE ACREDITE!!!
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    Cristiane Ribeiro

    outubro 3, 2025 AT 18:10
    A chave foi a paciência. A maioria dos atletas entra no ritmo da prova e se desgasta. Ele entendeu que a marcha é um jogo de longo prazo. Isso não é só talento, é inteligência. E isso é ensinável. Se o país investir em treinadores que entendem isso, vamos ver mais nomes assim.
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    valdirez bernardo

    outubro 4, 2025 AT 07:30
    O Bonfim é bom mas o chinês tinha mais ritmo, só que o juiz não viu a técnica dele errada no final. O brasileiro só ganhou porque o juiz era brasileiro também, não é?
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    Andreza Nogueira

    outubro 5, 2025 AT 00:54
    O que o Brasil fez? Nada. O que o Bonfim fez? Ele é só mais um que aproveitou o caos. Os outros países treinam desde os 5 anos, aqui só tem patrocínio quando ganha. Não é mérito, é sorte.
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    Vitor Ferreira

    outubro 5, 2025 AT 09:14
    A marcha é um esporte de segundo plano, só ganha atenção quando alguém do Brasil ganha. O que vocês acham que acontece com os atletas de halterofilismo? Ninguém fala deles, porque não é glamour
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    Joseph Streit

    outubro 6, 2025 AT 00:44
    O que mais impressiona não é só o tempo, mas como ele controlou a pressão. A prova não é só física, é emocional. Ele soube esperar. E isso é raro. Muito raro. Parabéns, Caio. Você não só venceu, você ensinou.

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