O ex-Ministro de Planejamento e da Fazenda do Brasil, Delfim Netto, faleceu no dia 12 de agosto de 2024, aos 96 anos. Delfim Netto é uma figura icônica na história da economia brasileira, com uma carreira que se estendeu por várias décadas e envolveu momentos críticos da política e da economia do país. Ele serviu sob o regime militar de 1967 a 1974, período em que desempenhou um papel crucial na formulação das políticas econômicas do Brasil.
Nascido em 18 de maio de 1928, em São Paulo, Netto logo demonstrou inclinação para a economia. Estudou na Universidade de São Paulo, onde formou-se economista na década de 1950. Seu talento foi rapidamente reconhecido, e ele ingressou no setor público, onde começou a moldar seu caminho. A década de 1960 marcou o início de sua notoriedade quando foi nomeado Ministro de Planejamento e, posteriormente, Ministro da Fazenda durante a ditadura militar.
Sua nomeação foi um divisor de águas para o Brasil, um país em vias de industrialização e com a necessidade urgente de políticas econômicas robustas. Delfim Netto ficou conhecido por sua abordagem pragmática e técnica, que inicialmente trouxe resultados visíveis, especialmente no aumento da produção industrial.
O período em que Delfim Netto esteve no comando das finanças do país é frequentemente referido como o 'Milagre Brasileiro'. Entre 1968 e 1973, o Brasil experimentou taxas de crescimento econômico sem precedentes, com níveis de crescimento do PIB que muitas vezes superaram 10% ao ano. As políticas de Delfim apostaram fortemente na industrialização, na infraestrutura e na abertura econômica direcionada ao comércio exterior.
Os anos dourados desse crescimento, no entanto, vieram com um custo. A rápida expansão da oferta monetária e a captação de grandes volumes de capital externo levaram a um aumento significativo da inflação. Paralelamente, a concentração de renda e a desigualdade social aumentaram, questões que iriam pairar como sombras sobre o legado de Netto.
Era inevitável que a passagem de Delfim Netto pelo governo fosse alvo de críticas, tanto pelos aspectos econômicos como pelos seus laços estreitos com a ditadura militar. Enquanto alguns o viam como um dos principais arquitetos do progresso econômico do país, outros criticavam-no por apoiar um regime autoritário e implementar políticas que, a longo prazo, contribuíram para o aumento da desigualdade social e a inflação.
Olhando em retrospectiva, essa dupla faceta do seu legado torna Delfim Netto uma figura controversa, admirada por muitos e rechaçada por outros. A realidade é que ele representou uma era de mudanças rápidas e profundas, que moldaram a economia brasileira por várias décadas.
Após sua saída do governo em 1974, Delfim não se retirou da cena pública. Ele continuou a ser uma voz importante na economia brasileira, trabalhando como consultor e frequentemente sendo chamado para palestras e entrevistas. Ao longo dos anos 1980 e 1990, ele exerceu influência de forma distinta, sem os holofotes do poder mas com um conhecimento profundo da máquina econômica brasileira.
Sua morte, que pegou muitos de surpresa, desencadeou uma série de reflexões sobre seu impacto na história econômica do Brasil. Amigos e colegas lamentaram a perda de um intelectual brilhante, enquanto analistas revisitam seus feitos e controvérsias, com um olhar tanto crítico como nostálgico.
A complexidade de Delfim Netto não deve ser resumida a análises simplistas. Seu legado é uma amalgama de crescimento econômico, desafios sociais e uma relação intrincada com um período histórico difícil. A dicotomia que ele representa - progresso e desigualdade, crescimento e inflação, desenvolvimento e autoritarismo - é um campo fértil para futuras análises e debates.
Para as futuras gerações de economistas e historiadores, a vida e a carreira de Delfim Netto serão estudadas com detalhe. Ele foi um homem que deixou um impacto indelevel — seja como artífice do 'Milagre Brasileiro' ou como símbolo de um período de forte repressão política. Sua história serve como um lembrete da complexa teia de causas e efeitos que moldam o desenvolvimento de uma nação.
Escrito por Thiago Neves
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