Quando Paula Magalhães, apresentadora do programa Garimpô da Rede Bahia, chegou à Barroquinha para conversar com o designer Deco Sodré, o objetivo era descobrir como couro pode sair do chapéu dos vaqueiros e ganhar espaço nos guarda-roupas urbanos. A inspiração vem de Luiz Gonzaga, cujo visual icônico ainda ecoa nas festas de São João e nas feiras de artesanato. Em menos de dez minutos, a reportagem já mostrava que a tradição não precisa ser um peso, mas sim um ponto de partida para estilos mais descontraídos.
O couro está presente na vida dos sertanejos desde o século XIX, quando os vaqueiros do semiárido, conhecidos como cangaceiros e vaqueiros, adotaram chapéus, botas e cintos de couro para enfrentar o clima árido. Essa vestimenta, inicialmente funcional, acabou se transformando em símbolo cultural, imortalizado nas canções de Luiz Gonzaga. Hoje, o couro ainda aparece em festas juninas, mas também tem sido reaproveitado por estilistas que buscam valorizar a raiz nordestina sem se prender ao passado.
Segundo o Instituto Brasileiro de Moda (IBModa), o segmento de couro no Nordeste movimentou R$ 540 milhões em 2023, com destaque para pequenos artesãos que trabalham em cidades como Barroquinha, Caruaru e Juazeiro do Norte. Essa economia criativa tem potencial de gerar milhares de empregos, especialmente se a produção for combinada com técnicas de customização que atraiam o público urbano.
Deco Sodré, formado em Design de Moda pela Universidade Federal da Bahia e fundador da marca Nordestil, explicou que a chave está na combinação de tradição e inovação. "O couro tem memória, mas também tem versatilidade. Você pode pintar, bordar, aplicar tachas ou até transformar uma jaqueta em um vestido leve", disse ele, enquanto mostrava uma jaqueta de couro marrom que havia transformado em uma peça de renda com recortes assimétricos.
A seguir, as principais recomendações do designer:
Deco ainda sugeriu que quem não tem habilidades de costura pode recorrer a ateliês locais, que oferecem serviço de customização por cerca de R$ 120 por peça. Para quem prefere fazer tudo em casa, ele disponibilizou um mini‑tutorial no Instagram da Nordestil, que já ultrapassou 35 mil visualizações.
Depois da transmissão, as redes sociais da Rede Bahia registraram um pico de comentários positivos. Usuários de Salvador, Recife e Fortaleza elogiaram a proposta, destacando a possibilidade de usar couro em ambientes formais, como “um blazer de couro para um casamento à beira-mar”.
Já a professora de História da Moda, Mariana Figueiredo, da Universidade Federal de Pernambuco, alerta que a popularização deve ser feita com responsabilidade ambiental. "A extração de couro ainda gera impactos, mas projetos de curtimento vegetal e reutilização de sobras podem minimizar o efeito”, comenta.
Empreendedores locais também viram oportunidade. O dono da loja Couro da Roça, José Tiburcio, afirmou que pretenderá ampliar a linha de peças customizadas, criando kits “faça‑você‑mesmo” que incluem tintas, agulhas e instruções.
Ao conectar o visual de Luiz Gonzaga ao street‑style contemporâneo, a matéria impulsionou um debate sobre identidade regional. “Quando eu vejo um jovem de Recife usando uma bota de couro que lembra o vaqueiro, sinto que a cultura está viva, não em museus”, declara o estudante de comunicação visual, Rafael Martins.
Do ponto de vista econômico, o aumento da demanda por peças customizadas pode gerar até 2.300 novos empregos no setor artesanal até 2026, de acordo com projeções da Associação Nacional dos Artífices do Couro (ANAC). Essa movimentação ainda pode atrair investimentos de grandes marcas que buscam “authenticity” nas suas coleções.
O Garimpô já está programado para retornar ao ar em setembro, com um episódio dedicado às tendências de couro no inverno brasileiro. Enquanto isso, Deco Sodré planeja lançar uma coleção cápsula “Sertão Urbano”, que será vendida exclusivamente online a partir de outubro.
Especialistas apontam que, nos próximos anos, a combinação de couro tradicional com materiais sustentáveis – como o “couro vegetal” produzido a partir de folhas de abacaxi – deve dominar as passarelas de São Paulo e Rio de Janeiro. Para quem quer entrar nessa onda agora, a dica é: comece com peças básicas e vá acrescentando toques regionais, como bordados de renda ou franjas de palha.
A melhor estratégia é combinar a jaqueta com tecidos leves, como linho ou algodão, e abrir a peça com recortes estratégicos. Aplicar um revestimento interno de forro respirável reduz o calor, enquanto um leve ventilador interno de linho permite circulação de ar.
A extração tradicional gera poluição de água e solo. Optar por couro curtido vegetal, reutilizar sobras de produção e apoiar marcas que adotam certificação ISO 14001 são formas eficazes de reduzir o impacto.
Os ateliês locais cobram entre R$ 100 e R$ 150 por peça, dependendo da complexidade da customização – bordado simples, pintura ou aplicação de tachas.
O couro simboliza a resistência e o modo de vida dos vaqueiros do semiárido. Quando usado em ambientes urbanos, ele reafirma raízes, cria conexão intergeracional e evidencia a diversidade do Brasil.
Deco Sodré confirmou que a coleção será lançada online em 15 de outubro de 2025, com pré‑venda exclusiva para seguidores do Instagram da Nordestil.
Escrito por matheus frança
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