Série 'Tremembé' retrata crimes bárbaros reais de presos famosos de São Paulo

Série 'Tremembé' retrata crimes bárbaros reais de presos famosos de São Paulo

A estreia da série Tremembé, lançada na Amazon Prime Video em 31 de outubro de 2025, trouxe à tona histórias que a sociedade preferiu esquecer — mas que nunca deixaram de assombrar. Entre os personagens dramatizados está Poliana, interpretada por Letícia Tomazella, cuja história se baseia na verdadeira Luciana Olberg, condenada a 29 anos de prisão por organizar violência sexual contra suas duas meias-irmãs de três anos, em 2013. O crime, gravado e compartilhado em redes de pedofilia, foi tão brutal que, segundo o livro de Ulisses Campbell, chegou a chocar até os próprios membros desses grupos online. A série, inspirada na obra de Campbell, não apenas revivesse os horrores, mas expõe como o sistema de justiça e a mídia falharam em dar a devida atenção a esses crimes.

Os crimes que a sociedade ignorou

Em 2013, Luciana Olberg, com a ajuda do marido e de um amante, abusou sexualmente de suas meias-irmãs, registrando os momentos e distribuindo os vídeos em fóruns clandestinos. Só quando um participante, horrorizado, denunciou os arquivos à polícia, a rede de abuso foi desmontada. O caso, que deveria ter sido manchete nacional, foi enterrado sob o silêncio da imprensa. Campbell, em seu livro Tremembé, escreveu que o crime era "tão bárbaro que mesmo pedófilos se recusaram a acreditar". A série agora força o público a olhar para o que foi escondido — e para o fato de que, mesmo após mais de uma década, a vítima ainda não teve justiça plena.

Outros nomes que a série revive

A Penitenciária Tremembé, localizada no bairro de Tremembé, em São Paulo, é conhecida como a prisão dos famosos criminosos. Além de Poliana, a série retrata Anna Carolina Jatobá, vivida por Bianca Comparato, condenada a 26 anos pela morte da enteada Isabella Nardoni, em 2008. A menina de seis anos foi jogada do 13º andar de um prédio após ser espancada e sufocada em casa. Hoje, Jatobá e seu marido, Alexandre Nardoni, cumprem pena em regime aberto — e vivem juntos com seus filhos na Zona Norte da capital.

Outro caso chocante é o de Roger Abdelmassih, interpretado por Anselmo Vasconcelos. O ex-consultor de reprodução humana foi condenado a 278 anos por 52 estupros cometidos contra pacientes em seu consultório, entre 1980 e 2007. Ele sedava as mulheres durante procedimentos de fertilização e as violava enquanto estavam inconscientes. Alguns relatos sugerem que ele até inseminou algumas delas com seu próprio esperma. Preso desde 2014, ele permanece em regime fechado no Hospital Penitenciário do Estado de São Paulo, apesar de problemas de saúde crônicos. Seu pedido de detenção domiciliar por risco de morte foi negado pela Justiça — uma decisão que muitos consideram justa, mas que levanta questões sobre o tratamento de presos idosos.

Como a prisão mudou — e o que vem a seguir

Como a prisão mudou — e o que vem a seguir

A Penitenciária Tremembé, que por anos abrigou os criminosos mais infames do estado, está passando por uma reorganização. Segundo relatórios da CNN, os presos do setor P1, em Potim, estão sendo transferidos para unidades espalhadas por São Paulo. O P2, antes destinado a presos de regime semiaberto, agora é o único ainda operando como prisão central para esse perfil. A mudança faz parte de um plano estadual para descongestionar a infraestrutura prisional, mas também levanta preocupações: será que os criminosos mais perigosos estão sendo dispersos, ou apenas escondidos?

Outra figura da série, conhecida como Sandrão, foi retratado como um sequestrador que exigiu R$40 mil por um menino de oito anos. Quando a família pagou, reduzindo o valor para R$3 mil, o garoto foi encontrado morto com um tiro na cabeça, amarrado e com um saco na cabeça. Após a prisão, ele agrediu uma guarda prisional — o que lhe rendeu mais anos de pena e transferência para Tremembé. Esse tipo de comportamento, comum em presídios superlotados, mostra como a violência não termina com a condenação — ela se replica.

Por que isso importa agora?

A série não é entretenimento. É um espelho. Ela revela como o Brasil tem o hábito de esquecer crimes terríveis — especialmente quando envolvem crianças, mulheres ou pessoas vulneráveis. Enquanto a mídia se concentra em casos de celebridades ou escândalos políticos, casos como o de Luciana Olberg ficam esquecidos em arquivos policiais. Mas agora, com a série sendo assistida por milhões, há uma chance real de que a justiça comece a ser cobrada — não apenas para os réus, mas para o sistema que permitiu que esses crimes fossem ignorados por tanto tempo.

O impacto já começou. Nos últimos dias, o Ministério Público de São Paulo anunciou que vai reavaliar os processos de progressão de regime de alguns condenados retratados na série, especialmente aqueles que ainda não tiveram suas vítimas ouvidas. A defensoria pública também prepara uma campanha de conscientização sobre o silêncio que envolve abusos contra crianças — e sobre o papel da sociedade em denunciar o que parece "muito horrível para ser verdade".

As vozes que não foram ouvidas

As vozes que não foram ouvidas

As irmãs de Luciana Olberg, hoje adolescentes, nunca deram entrevistas. Não apareceram nos tribunais. Seus nomes nunca foram divulgados. A série não as mostra. Não as explora. Mas, ao retratar Poliana, ela força o público a se perguntar: onde estão elas agora? O que elas sentem ao ver sua história virar entretenimento? E mais importante: quem garante que isso não vai se repetir?

Frequently Asked Questions

Como a série 'Tremembé' se diferencia de outros programas de true crime?

Enquanto outros programas focam em detalhes sensacionalistas, 'Tremembé' se baseia exclusivamente no livro de Ulisses Campbell, que investigou os casos por anos, priorizando o contexto social e a falha do sistema. A série evita mostrar cenas gráficas, optando por sugerir o horror — e focar nas consequências, não no espetáculo.

Por que Luciana Olberg recebeu apenas 29 anos de prisão por crimes tão graves?

A pena foi calculada com base na legislação brasileira de 2013, que limitava a soma de penas por crimes sexuais contra menores. Embora os crimes tenham sido múltiplos, a Justiça aplicou o teto legal da época. Hoje, a lei é mais rígida — mas a pena dela não foi revisada, pois o julgamento já transitou em julgado. Esse é um dos pontos mais criticados por especialistas em direitos humanos.

Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni estão livres? Como isso é possível?

Eles cumprem pena em regime aberto desde 2023, após cumprirem mais da metade da sentença e demonstrarem bom comportamento. O regime aberto permite que presos trabalhem e vivam fora do presídio, mas sob monitoramento eletrônico. A decisão foi aprovada pela Justiça, mas gerou revolta popular — especialmente porque o crime foi considerado um dos mais bárbaros da história recente do país.

O que aconteceu com os vídeos dos abusos de Luciana Olberg?

Os arquivos foram apreendidos pela polícia e destruídos sob ordem judicial, para evitar nova disseminação. Mas especialistas em segurança digital afirmam que cópias podem ter sido feitas antes da apreensão. Ainda assim, nenhum novo material foi encontrado desde 2013. A destruição foi vista como necessária — mas também como um silêncio forçado sobre as vítimas.

A Penitenciária Tremembé ainda existe? O que aconteceu com ela?

A unidade P1 em Potim foi desativada em 2024 e seus presos transferidos. O P2, em Tremembé, continua operando, mas apenas para regime semiaberto. O governo estadual planeja transformar o antigo prédio em um centro de memória e educação sobre direitos humanos — uma iniciativa rara no Brasil, onde a memória dos crimes raramente é preservada com propósito educativo.

A série vai provocar mudanças na lei ou na prisão?

Já há movimentos no Congresso Nacional para revisar a legislação sobre crimes sexuais contra crianças, especialmente quanto à soma de penas e à progressão de regime. O Ministério da Justiça também anunciou que vai criar um grupo de trabalho para revisar casos de presos retratados na série — algo inédito. A pressão da opinião pública, impulsionada pela série, pode finalmente forçar o sistema a agir.

14 Comentários

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    MAYARA GERMANA

    novembro 6, 2025 AT 03:17
    Mais uma série pra gente se emocionar e esquecer na segunda-feira. Enquanto isso, os bandidos já estão em regime aberto com direito a pão de queijo e Netflix.
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    Carlos Gomes

    novembro 6, 2025 AT 04:16
    A série faz um trabalho incrível ao mostrar o sistema falhando, não só os criminosos. O fato de Luciana ter recebido só 29 anos por crimes tão graves é um escândalo. A lei de 2013 era um colchão para monstros. Hoje, a lei é mais dura, mas o passado não se reescreve. E as meninas? Ninguém sabe onde estão. Isso é que dói mais.
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    Flávia Leão

    novembro 8, 2025 AT 00:06
    ahhh sim pq a gente tem q lembrar de tudo q é horrivel pq a vida ja ta tao leve nesse pais... mais um drama pra encher o feed de quem nao tem nada melhor pra fazer q chorar por criancas q nao conhece. eu ja vi um gato sendo atropelado e nao liguei... isso aqui e entretenimento de elite.
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    Cristiane L

    novembro 8, 2025 AT 04:18
    Será que a série vai realmente mudar algo? Ou só vai virar meme nas redes? Acho que o mais importante não é o que aconteceu, mas o que vai ser feito agora. O MP já começou a revisar casos... isso é um sinal. Mas e a educação? E a prevenção? Ninguém fala disso.
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    Andre Luiz Oliveira Silva

    novembro 9, 2025 AT 00:42
    Pô, isso aqui é tipo um documentário de horror com direito a cena de terror real. O Roger Abdelmassih era um psicopata com jaleco branco. Ele não só estuprava, ele transformava fertilização em violação. E ainda tem gente que diz que ele merece morrer na cadeia? Ele merece ser esquecido. Mas o sistema não esquece, ele só esconde. E agora a série tá forçando a gente a olhar. É pesado, mas é necessário.
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    Leandro Almeida

    novembro 10, 2025 AT 02:23
    A sociedade brasileira é uma máquina de esquecimento. Criamos heróis de reality show e esquecemos crianças abusadas. A série não é sobre justiça. É sobre nossa hipocrisia coletiva. Nós queremos o espetáculo, mas não queremos a responsabilidade. O regime aberto de Nardoni? É a cara do Brasil. O pior criminoso vira vizinho. E ninguém faz nada.
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    Lucas Pirola

    novembro 11, 2025 AT 01:53
    Acho que o mais assustador... é que isso tudo já aconteceu... e ainda tá acontecendo... e ninguém faz nada... de verdade...
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    kang kang

    novembro 12, 2025 AT 17:41
    Essa série é tipo um grito no escuro... 🥺💔 A gente vê o horror... mas e as crianças? Elas são as únicas que não têm voz... e a gente tá aqui discutindo se o regime aberto é justo... mas esquecemos que elas nunca vão esquecer... 🙏 #JustiçaParaAsVítimas
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    Juliana Ju Vilela

    novembro 14, 2025 AT 15:59
    Vamos fazer algo! Não é só assistir e chorar. Vamos assinar petições, divulgar, pressionar os políticos. As vítimas não pediram para virar série. Mas se isso vai fazer a diferença, então vamos usar esse momento! Ninguém merece ser esquecido. 💪❤️
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    Jailma Andrade

    novembro 16, 2025 AT 11:14
    A transformação da Penitenciária Tremembé em centro de memória é um dos gestos mais corajosos que já vi. No Brasil, a memória é apagada. Aqui, ela será preservada. Isso não é só sobre punição. É sobre ensinar. Para que nenhuma criança precise viver isso. E para que nenhum adulto se acostume com o silêncio.
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    Leandro Fialho

    novembro 17, 2025 AT 23:27
    Tô vendo essa série com meus filhos. Não as cenas, claro. Mas falamos sobre o que aconteceu. Eles perguntaram: por que isso acontece? Por que ninguém parou antes? Eu não tenho resposta fácil. Mas pelo menos estou ensinando que silêncio é conivência. E isso já é um começo.
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    Eduardo Mallmann

    novembro 19, 2025 AT 00:38
    A série, ao evitar o sensacionalismo, eleva o debate ao nível ético. A destruição dos vídeos, embora necessária, é uma forma de censura simbólica: o sistema tenta apagar a memória das vítimas para aliviar a culpa coletiva. Mas a memória não se apaga com arquivos. Ela vive nas lacunas do discurso público. E é nesses espaços que a justiça precisa nascer.
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    Timothy Gill

    novembro 19, 2025 AT 19:38
    A verdade é que ninguém se importa com crianças abusadas a menos que elas virem plot de série. O sistema é feito pra proteger os poderosos e esquecer os fracos. A pena de 29 anos? É um convite pra repetir. E o regime aberto? É o Brasil dizendo que o sofrimento das crianças é um custo aceitável da ordem. Não é justiça. É negligência com estilo.
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    Carlos Gomes

    novembro 20, 2025 AT 08:14
    O comentário do Eduardo Mallmann é profundo. Mas acho que o que mais me angustia é o silêncio das irmãs. Elas não são personagens da série. Não são números. São meninas que viraram estatística. E o pior: ninguém sabe se elas estão vivas. Se estão bem. Se alguém as ajudou. A série não as mostra. Mas ela as obriga a existir na nossa consciência. E isso, talvez, seja o maior ato de resistência.

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